Prédio de grife ‘assusta’ moradores da Vila Madalena

Prédio de grife ‘assusta’ moradores da Vila Madalena

POR VANESSA
25/02/14  00:12
Ele é um edifício assinado. Aliás, assinadíssimo: saiu das pranchetas do badalado e premiado arquiteto Isay Weinfeld. Mas isso não o livrou das críticas. Moradores e comerciantes da Vila Madalena (zona oeste de SP) veem apenas um “paredão cinza” que subiu de repente para atrapalhar a paisagem.

Mix 422

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Vanessa Correa/Folhapress
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Vista do empreendimento comercial Mix 422, na Vila Madalena, a partir da rua Fradique Coutinho
Há tempos quem vive no bairro da zona oeste briga contra a chegada dos prédios, mas o recém erguido Mix 422, da construtora Idea!Zarvos, desagrada não só por ser um edifício a mais em um bairro de casinhas, mas por sua forma e cor: todo cinza (ao menos por enquanto), ele corta de fora a fora um pedaço do quarteirão formado pelas ruas Fidalga, Aspicuelta e Fradique Coutinho.
O burburinho está no Facebook e nas ruas. “Bloquearam o céu de boa parte da comunidade da Vila Madalena com um paredão horroroso”, reclamou o publicitário Fernando Cabral, 35, em sua timeline na rede social. Para “Seres Urbanos”, Fernando disse: “Verticalizar a cidade já é questionável. Verticalizar e ‘vandalizar’ a vista então… Esse caso foi além da descaracterização do bairro”.
No quarteirão em que está o prédio, a recepção não foi melhor. Fábio Tolosa, 49, dono de uma loja de presentes na rua Fradique Coutinho, engrossa o coro dos perplexos. “Acho muito feio. Ainda não entendi. A Zarvos faz projetos interessantes, mas esse eu acho agressivo, árido. E é impressionante, porque se vê de vários pontos do bairro. Vamos ver depois de pronto, né, com algum paisagismo, talvez.”
A dona de galeria Carla Meira, 38, também não gostou do prédio, que lhe “parece um bloco sem ventilação”, mas confessou que não gosta de nenhum edifício mesmo.
Um reconhecido crítico de arquitetura que preferiu falar em “off” (sem ser identificado), se referiu ao Mix como um edifício “polêmico”, que tem gerado discussão. “Tem um paredão que é um pouco agressivo”, disse, apesar de gostar do projeto. Também comentou que, com as novas construções chegando à Vila e o adensamento da cidade como um todo, a “sorte” do edifício é que ele “vai desaparecer daqui alguns anos”.
Com isso, o presidente do IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil), José Armênio de Brito Cruz, concorda. “A cidade vai se adensar, no futuro não vai ser feita de casinhas. A Vila é um bairro bom, bem localizado, todo mundo tem direito de morar lá. Até o limite que aguentar”.
Para ele, a rejeição ao prédio é um fenômeno estético-cultural e questão de ponto de vista. “Tem gente que se sente agredida por um prédio neoclássico, que vê como destruição da cultura brasileira. O que é mais agressivo: a destruição de uma identidade cultural ou um paredão? É questão de opinião”.
Por outro lado, José Armênio diz acreditar que nossa legislação deve mudar para deixar os empreendimentos imobiliários mais transparentes. “As pessoas precisam saber o que vai acontecer do lado da casa delas. Para evitar que chegue um projeto que não conhecem e aí se assustem”.
O autor do projeto, Isay Weinfeld, diz que está “completamente confortável” com sua obra e que respeita a opinião das pessoas. Não quis comentar em mais detalhes o projeto, mas lembrou que o edifício ainda não está pronto.
Otávio Zarvos, sócio da construtora responsável pelo edifício, defendeu o projeto, especialmente suas qualidades urbanísticas. Conta que apenas uma casa foi demolida para sua construção, que ocorreu em terrenos onde funcionavam estacionamentos. Além disso, diz, suas três frentes, todas com cerca de apenas dez metros, serão abertas à calçada. Uma terá comércio no térreo, e a outra, um bicicletário. Diferente dos edifícios murados e gradeados que não se comunicam com a rua.

http://seresurbanos.blogfolha.uol.com.br/2014/02/25/predio-de-grife-assusta-moradores-da-vila-madalena/

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