Ao assumir 3º mandato na Bolívia, Evo reforça demanda de saída ao mar: 'voltar ao Pacífico com soberania'

Aqui, a Guerra do Pacífico:

mapa da região disputada:



Ao assumir 3º mandato na Bolívia, Evo reforça demanda de saída ao mar: 'voltar ao Pacífico com soberania'

Rota até o mar é reivindicação antiga da Bolívia e pauta importante da campanha à reeleição; sob disputa com o Chile, retomada de território perdido em guerra será decidida por Haia

O líder indígena cocalero Evo Morales foi empossado nesta quinta-feira (22/01) presidente da Bolívia em seu terceiro mandato consecutivo. O mandatário jurou o cargo durante cerimônia realizada no Parlamento boliviano junto ao vice-presidente, Álvaro García Linera.
Além de se comprometer a reduzir a pobreza ao menor nível da história do país, Evo Morales também reforçou uma reivindicação antiga  — e pauta central de sua campanha à reeleição —, o direito boliviano a uma saída ao mar. "Devemos voltar ao Pacífico com soberania", disse Morales.

“Temos o direito a uma saída soberana ao oceano Pacífico, por história, por justiça e por direito”, acrescentou o presidente, referindo-se à demanda de seu país com o Chile no tribunal internacional de Haia para a retomada de parte do território perdido durante a guerra do Pacífico, na qual o país indígena perdeu quase 400 quilômetros lineares de costa.


Originada nas desavenças entre Chile e Bolívia sobre o controle de uma parte do Deserto de Atacama rica em recursos minerais. Este território controverso era explorado por empresas chilenas de capital britânico. O aumento de taxas sobre a exploração mineral logo se transformou numa disputa comercial, crise diplomática e por fim, guerra.

Havia muitas controvérsias acerca dos reais limites entre os países depois da descolonização. Todas as novas nações herdaram os interesses imperialistas do já combalido império espanhol. Bolivianos e chilenos discordavam quanto à soberania da região, embora toda ela já estivesse sendo explorada por companhias chilenas dotadas de capital britânico. O Chile tinha uma economia mais robusta e instituições mais fortes que a maioria dos outros países latino-americanos. No entanto, quando da proclamação da Bolívia por Simón Bolívar, este deixou claro que a Bolívia herdara dos espanhóis uma saída soberana para o mar.


Quadro: A Batalha de Arica (1880), por Juan Lepiani


Quadro: Combate Naval em Iquique, Marinha Chilena vs Marinha Peruana, por Thomas Somerscales


Somente em 1866 foi assinado um tratado entre Chile e Bolívia estabelecendo limites territoriais, fixando o 24º paralelo como fronteira e delimitando que ambos países dividiriam impostos sobre os recursos situados entre o 23º e 24º paralelos. Um segundo tratado foi assinado em 1874, cedendo os impostos sobre os produtos entre o 23º e 24º paralelos inteiramente para a Bolívia, mas fixando taxas para as companhias chilenas para os próximos 25 anos. As companhias chilenas se expandiram rapidamente, controlando a indústria mineira, deixando a Bolívia temerosa da perda de seu território.

Em 1878 o presidente boliviano Hilarión Daza decretou um aumento de taxas sobre as companhias chilenas que exploravam o litoral boliviano, retroativo ao ano de 1874, sob protestos do governo chileno, do presidente Aníbal Pinto. Quando a empresa Antofagasta Nitrate & Railway Company se recusou a pagar a sobretaxa, o governo boliviano ameaçou confiscar todas suas propriedades. O Chile respondeu enviando um navio de guerra para o local em dezembro de 1878. A Bolívia então declarou o seqüestro dos bens da empresa, anunciando o leilão para 14 de fevereiro de 1879. No dia do leilão, 200 soldados chilenos desembarcaram e ocuparam a cidade portuária de Antofagasta, sem resistência.


Resoluções territoriais após o conflito


Em 1 de Março de 1879 a Bolívia declarou guerra ao Chile, invocando uma aliança secreta que mantinha com o Peru: o Tratado de Defesa de 1873. O governo peruano estava determinado a cumprir sua aliança com a Bolívia, também temeroso do crescente expansionismo chileno, porém receavam que as forças aliadas não eram páreo para o exército chileno; preferiam um acordo à guerra. Um diplomata peruano foi enviado para intermediar o desentendimento. O Chile requereu neutralidade por parte do governo peruano, mas a aliança entre Peru e Bolívia impedia tal neutralidade. O Chile respondeu então com a quebra das relações diplomáticas e ulterior declaração de guerra aos dois aliados em 5 de Abril de 1879. O Peru se viu então arrastado para uma guerra, em razão do tratado de aliança com a Bolívia.

A Argentina, que disputava com o Chile o controle da região da Patagônia, foi convidada pelas forças aliadas para entrar no conflito. No entanto, o governo argentino recusou o pedido, preferindo resolver sua divergência por vias diplomáticas.

Tropas chilenas estacionadas ao sul de Lima, capital do Peru, 1881.


Sob os termos do Tratado de Ancón, o Chile ocupou as províncias de Tacna e Arica por 10 anos, onde depois do tempo estipulado seria realizado um plebiscito que decidiria a nacionalidade da região. Os dois países nunca concordaram com os termos do plebiscito. Finalmente, em 1929, sob o intermédio do presidente estadunidense Herbert Hoover, um acordo foi feito no qual o Chile ficou com Arica; O Peru readquiriu Tacna e recebeu $6 milhões em indenizações.


Missão diplomática peruana enviada ao Chile, para as resoluções de paz


Em 1884, a Bolívia assinou uma trégua que deu total controle da costa pacífica ao Chile, com suas valiosas reservas de cobre e nitratos. Um tratado de 1904 tornou este arranjo permanente. Em retorno, o Chile concordou em construir uma ferrovia ligando La Paz, capital boliviana, ao porto de Arica, garantindo liberdade de trânsito ao comércio boliviano pelos portos chilenos.



Por: Matheus Santos da Silveira, Professor de História formado pela PUCPR, Especialista em História Contemporânea e Relações Internacionais.

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