Internet é terreno fértil para agenciar garotas "ficha rosa"; entenda

Internet é terreno fértil para agenciar garotas "ficha rosa"; entenda

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Márcio Neves
Do UOL, em São Paulo
06/07/201506h00
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·         Arte/UOL
Basta uma pesquisa na internet pelo termo "ficha rosa" e lá estão centenas de anúncios oferecendo grandes ganhos em dinheiro para mulheres. "Quer trabalhar como modelo ficha rosa? Ganhar dinheiro rapidamente e participar de festas e viagens?", diz um dos anúncios. Grande parte das ofertas está concentrada nas redes sociais.
O termo "ficha rosa" define modelos mulheres que trabalham em feiras, eventos e desfiles como promotoras de determinada marca, mas que também atuam como garotas de programa (os homens são definidos como "ficha azul"). O assunto ganhou popularidade com a novela "Verdades Secretas", da TV Globo, que retrata uma jovem modelo que acaba aliciada por uma agência que, além dos serviços de modelo, oferece as garotas para prostituição --um retrato fiel da realidade, afirmou o autor do folhetim, Walcyr Carrasco, em diversas entrevistas.

Os anúncios encontrados na internet oferecem de R$ 800 a R$ 1.500 para garotas que aceitem os trabalhos que incluem participar de eventos, muitos deles famosos e populares, acompanhar executivos em jantares e, na maioria dos casos, também manter relações sexuais ou estar disposta a isto.

"TODO MUNDO SABE QUE EXISTE FICHA ROSA", DIZ DONO DE AGÊNCIA

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UOL entrou em contato com alguns destes perfis que publicam anúncios e em uma destas conversas, um destes agenciadores revela ter cerca de 1.000 garotas em seu book. Outro diz que tem contato com 800 garotas, mas que somente cem delas são as com quem faz negócio com frequência.

Também fizemos contato com perfis de garotas que curtiam páginas de agenciadores, algumas relataram ganhar mais de R$ 20 mil por mês. Três delas afirmaram fazer em média 15 "jobs" por mês (palavra que utilizam para definir os eventos e programas) e que é normal pagar de 10% a 20% do valor ganho em cada um deles para quem as agenciou.

A prostituição não é crime no Brasil, mas este agenciamento, mesmo na internet, é classificado como um crime de nome estranho: rufianismo. É o termo jurídico designado para classificar a cafetinagem e que pode resultar em até quatro anos de prisão e multa.
 
Um destes perfis com que o UOL manteve contato negou que faz cafetinagem, disse que ganha dinheiro de seus clientes pela indicação das garotas, e não em cima das meninas. Outros perfis desconversaram ou bloquearam a reportagem quando questionados.
Mas mesmo quem busca por garotas e oferece seus serviços revela que se envolver no "negócio" é perigoso. "Tem muita gente ruim neste meio, falsos agenciadores que fingem ter clientes para sair com as meninas, falsos clientes que marcam encontros e abusam das garotas", alerta um deles, que não quis se identificar.
 
O Facebook, uma das redes sociais com maior número de anúncios identificados pela reportagem, informou que "ofertas de serviços sexuais são contra os padrões da comunidade" e disse contar com uma equipe para receber e analisar as denúncias e remover o conteúdo.

Também questionamos a Polícia Civil de São Paulo se existem casos ou investigações em curso sobre este uso das redes sociais para fins de intermediação da prostituição, mas até a publicação desta reportagem a assessoria de imprensa da instituição não se manifestou oficialmente.

A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República foi procurada para verificar a existência de estatísticas de denúncias sobre este tipo de prática, mas a pasta informou que não produz estatísticas sobre o aliciamento de mulheres para a prostituição, e informou por meio de nota que o Ligue 180, serviço de denúncias de violências contra a mulher, está à disposição para denúncias de agenciadores e que os casos relatados são imediatamente repassados para os órgãos de investigação.


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