E se o Sul se separasse do Brasil?

E se o Sul se separasse do Brasil?


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Parte expressiva da produção agrícola e industrial, da força de trabalho e da capacidade intelectual do Brasil seria perdida. O Sul é a região com melhores índices de empregabilidade, educação e desenvolvimento humano. Mas o novo país não seria necessariamente melhor que o restante do Brasil e também teria uma série de desafios a enfrentar. Entre eles, a falta de uma unidade cultural, divergências políticas, crise energética e dificuldade em obter certos produtos ou matérias-primas.
O Sul tem um histórico de lutas por independência. A Revolução Farroupilha (1835-1845) resultou na primeira experiência de presidencialismo e democracia em território brasileiro. Antes mesmo da proclamação da República, o movimento criou temporariamente as repúblicas Rio-Grandense e Juliana (no RS e em SC, respectivamente), durante o Império de dom Pedro II.

República do mate
A erva, usada em bebidas como chimarrão e tereré, seria o símbolo da nova nação
FRONTEIRAS
A tentativa de separação resultaria em resposta imediata do governo brasileiro, primeiro com a destituição dos governadores e em seguida com o avanço das Forças Armadas. A independência poderia ser pacífica, por meio de plebiscito recomendado pelo Congresso Nacional ou como resultado de um acordo de paz, em caso de conflito
POLÍTICA
O primeiro ato seria elaborar uma Constituição, definir a forma de governo e o processo eleitoral. Com histórico de oposição ao regime militar e uma tradição de líderes fortes, o país seria uma república governada por um presidente carismático, que precisaria conciliar interesses de gaúchos, catarinenses e paranaenses
ENERGIA
Sem Itaipu - o Brasil não abriria mão de uma das maiores hidrelétricas do mundo -, a principal fonte de energia seria o carvão mineral. A energia eólica teria que receber mais investimento e o país teria que importar gás natural da Argentina, além de ampliar hidrelétricas do rio Uruguai. Sem produção local de petróleo, o preço dos combustíveis dobraria
GOVERNO
A capital seria Chapecó (SC), planejada, localizada no centro do país e com infraestrutura de aeroporto. Alguns ministérios e os poderes Legislativo e Judiciário poderiam estar em outros estados. Outra questão é se as capitais estaduais seriam mantidas ou se o país seria uma república unitária, sem estados, como o Uruguai
AGRICULTURA
O principal setor da economia mateana afetaria a mesa do cidadão brasileiro. A região produz quase todo o trigo, a maior parte do arroz, mais da metade da cebola e um terço da batata inglesa, soja e milho do Brasil. O Mate também exportaria cevada para todas as cervejarias brasileiras, mas por outro lado teria que importar cacau e café
PECUÁRIA
A maioria do presunto consumido no Brasil seria importado, já que o Sul é referência na produção de frangos e suínos. Um terço do leite brasileiro também viria da República do Mate. Já o tradicional churrasco gaúcho seria afetado pela falta de carne. O novo estado produziria menos gado bovino que São Paulo
INDÚSTRIA
O Mate seria uma potência do setor metalmecânico. A região abriga siderúrgicas, montadoras de caminhões, carrocerias, reboques e retroescavadeiras. Além disso, o Brasil dependeria do vizinho para manutenção e ampliação do transporte coletivo, já que cerca de 70% dos ônibus brasileiros são montados na região Sul

A política externa da República do Mate seria bastante voltada para os países da região platina - Argentina, Uruguai e Paraguai
Sem produzir gasolina, uma opção seria investir no etanol. Atualmente, a região Sul abriga apenas 7% das plantações de cana-de-açúcar brasileiras
Além de um Banco Central e uma moeda própria, o Mate teria que providenciar um código de ligação internacional (DDI) e um domínio de internet (.rmt)
Com a redução na capacidade agrícola, o Brasil provavelmente desmataria ainda mais a Floresta Amazônica para abrigar novas plantações
A produção escoaria pelos portos de Rio Grande (RS), Itajaí (SC) e Paranaguá (PR). A posição estratégica deles reduziria deslocamentos e gastos com transporte
Fontes Sites Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social e IBGE e relatórios Estatística de Produção Agrícola (julho de 2014) e Estatística de Produção Pecuária (junho de 2014), do IBGE

Consultoria Rodrigo Stumpf González, professor do Departamento de Ciências Políticas da UFRGS, e Hemerson Luiz Pase, professor do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)

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