O teatro como tratamento para a loucura

POR THAIS SCARLET
04/05/2016 16:31 / atualizado 04/05/2016 16:34

O teatro como tratamento para a loucura

Oficinas culturais ajudam na recuperação de pacientes psiquiátricos no Instituto Nise da Silveira

 
Veja o documentário em: http://oglobo.globo.com/sociedade/o-teatro-como-tratamento-para-loucura-19231190

RIO - A interpretação do ator e poeta Nilo Sérgio na peça “Deus e o Diabo na Terra de Fausto - o sonho da razão produz monstros” é inspiradora. O som das ondas batendo no Arpoador e o público relaxado, com roupas de banho, tornam a apresentação ainda mais significativa. No espetáculo, ele é um homem muito sábio que não se dava por satisfeito com o conhecimento que possuía e negociou com o Diabo. Na vida real, porém, a história — baseada na obra de Goethe — o tirou do inferno. Nilo Sérgio é hoje um dos frequentadores do Hotel da Loucura, uma ala psiquiatra do Instituto Nise da Silveira, em Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio, que já consegue viver sem medicamentos. O teatro é o melhor tratamento.

— Sou a exemplificação da reforma psiquiátrica e hoje me sinto totalmente ressocializado. Minha história na psiquiatria começou nos anos 80 junto com o rock and roll — diz ele, sempre muito bem vestido, que faz questão de mostrar o seu livro de poesias a quem chega pela primeira vez ao Hotel.

Em meio a prédios que foram palcos de abusos físicos e psicológicos, o Hotel da Loucura não tem 'check-in' ou 'check-out'. No entanto, há mais estrelas que outros hotéis espalhados pela zona sul carioca. O lugar iniciou as atividades em 2012 e oferece hospedagem a médicos, pesquisadores, artistas e quem mais quiser passar por ali. O hóspede não paga diária, mas retribui com atividades artísticas.

Os pacientes frequentadores das aulas de teatro e dança ficam livres para se expressarem e, assim, desenvolvem a comunicação e o afeto com o outro. Médico psiquiatra e um dos responsáveis pela peça, Vitor Pordeus cuida dos clientes seguindo os métodos de Nise da Silveira, uma psiquiatra que lutou contra os tratamentos agressivos de eletrochoque e operações no cérebro.

— É preciso promover a integração dos pacientes por meio do teatro e dança para romper barreiras e o isolamento. Tudo isso dentro de um ambiente favorável e amoroso para gerar a autonomia deles — afirma.

Entre tantas estrelas, Mirian Rodrigues é uma das atrizes do grupo. Artista e empresária, como gosta de se apresentar, passou a sofrer com surtos de agressividade após ser expulsa de casa e viver na rua. Ao chegar ao Hotel da Loucura, em 2012, a atriz não se interessava muito pelo teatro mas, aos poucos, começou a frequentar as oficinas e se livrou dos remédios. Atualmente, Mirian mora sozinha, vende empadas e voltou a estudar, além de se apresentar em diversas cidades do Brasil com o grupo de teatro.

“Deus e o Diabo na Terra de Fausto”, segundo o médico, poderia ser uma obra antiga e velha, mas o personagem egoísta é um espelho da sociedade em que vivemos. Em meio ao caos, violência e ambição, somos treinados para ser o melhor e buscarmos os nossos objetivos acima de tudo. Construímos o isolamento ou a defesa contra o outro e, assim, ficamos predispostos à loucura. A peça faz parte do circuito de apresentações do Hotel da Loucura que, no ano passado, apresentou “Hamlet” de William Shakespeare. Afinal, ser louco ou não ser, eis a questão.

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