Qual a diferença entre ser racional e ser inteligente

Qual a diferença entre ser racional e ser inteligente

Segundo pesquisadores, os dois atributos cognitivos são diferentes e não proporcionais

Beatriz Montesanti 21 Set 2016 (atualizado 21/Set 13h33)
FOTO: AJ CANN/FLICKR/CREATIVE COMMONS
A HUMANIDADE POSSUI NÍVEIS DE RACIONALIDADE DIFERENTES E ESSES NÍVEIS NÃO CORRESPONDEM À INTELIGÊNCIA

Nos anos 1970, psicólogos apontaram que pessoas no geral tendem a tomar decisões de forma intuitiva. Desde então, inúmeros pesquisadores se dedicaram a entender os níveis de irracionalidade humana e sua relação com a inteligência.

Em um artigo publicado no jornal “The New York Times”, David Z. Hambrick, professor de psicologia na Michigan State University, e seu aluno Alexander P. Burgoyne, fizeram um apanhado de alguns desses estudos que, nas últimas décadas, chegaram a uma mesma conclusão: a humanidade possui níveis de racionalidade diferentes e esses níveis não correspondem à inteligência.

A falácia da conjunção


O primeiro experimento nesse sentido foi feito há mais de 40 anos pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky. Na época, eles conduziram um experimento no qual pediram a várias pessoas para lerem o perfil de uma mulher e, em seguida, escolherem entre duas afirmações.

No excerto, a personagem fictícia Linda é descrita como uma mulher de 31 anos, solteira, extrovertida, inteligente, formada em filosofia e extremamente preocupada com questões sociais e ambientais. Então, deram as seguintes opções para que os participantes dissessem qual delas era a mais provável:
Linda trabalha como caixa de banco
Linda trabalha como caixa de banco e é ativa no movimento feminista

A maior parte deles escolheu a segunda opção, muito embora a primeira fosse mais provável: todas as caixas de banco feministas são caixas de banco, mas nem todas as caixas de banco são feministas.

Segundo os pesquisadores, isso acontece por um fenômeno que chamam “falácia da conjunção”: a crença de que a ocorrência de dois eventos simultâneos (ser caixa de banco e ser feminista) é mais provável que o de apenas um (ser caixa de banco).
“Avaliamos as evidências de uma forma consistente com nossas crenças prévias. Humanos, ao que parece, são fundamentalmente irracionais.”

David Z. Hambrick

Professor de psicologia na Michigan State University

Os níveis de racionalidade


Posto que seres-humanos são “fundamentalmente irracionais”, pesquisadores se dedicaram nos anos seguintes a diferenciar os níveis de racionalidade entre eles.

Em fins da década de 1990, o psicólogo Keith Stanovich conduziu outra série de experimentos de julgamento, aos moldes do anterior, paralelamente a testes de Q.I., o quociente de inteligência.

A partir dos resultados, Stanovich percebeu que a irracionalidade tinha pouca ou nenhuma relação com o Q.I: uma pessoa considerada inteligente (com uma capacidade intelectual, verbal e de abstração elevada) se mostrava por vezes tão irracional quanto uma considerada pouco inteligente.

Foi assim que o psicólogo introduziu o conceito de Q.R., o quoficiente de racionalidade - ou seja, um medidor capaz de avaliar a capacidade de uma pessoa de se afastar de suas crenças e intuições para tomar decisões.

Ainda, diferentemente do que acontece com níveis de inteligência, é possível melhorar a racionalidade dos indivíduos. Em 2015, o psicólogo Carey Morewedg e sua equipe avaliaram a susceptibilidade das pessoas submetidas a essas pesquisas.

Os participantes passaram por uma espécie de treinamento, assistindo a vídeos explicativos e brincando com jogos interativos de computador planejados para diminuir o viés na tomada de decisões - eles eram feitos com simulações de decisões na vida real e apresentavam um feedback de desempenho após cada etapa.

Ao final do processo, todos os participantes apresentaram níveis de racionalidade superiores ao início. Não há, no entanto, nenhuma evidência de que um “treinamento cerebral” tenha impacto nos níveis de inteligência de uma pessoa.

Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/09/21/Qual-a-diferen%C3%A7a-entre-ser-racional-e-ser-inteligente

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