Morte de primatas intriga veterinários e moradores do Jardim Botânico

Morte de primatas intriga veterinários e moradores do Jardim Botânico

Hipótese inicial de envenenamento está quase descartada

POR MAURÍCIO FERRO-11/10/2016 20:43 / atualizado 11/10/2016 21:15
A filhote de macaco-prego resgatada na segunda pela artista Isadora Medella - Reprodução / Facebook

RIO - Quando a artista Isadora Medella caminhava para o trabalho na última segunda, viu uma cena que diz ainda não ter saído da sua cabeça. Uma macaca-prego e sua filhote espumavam pela boca na Praça Pio Onze, no bairro do Jardim Botânico, Zona Sul do Rio. Isadora, que já perdeu cachorro e gato por envenenamento, logo pensou que o filme se repetia. Porém, veterinários praticamente descartaram essa hipótese. Eles acreditam que se trata de uma infecção viral semelhante à herpes, até mesmo por terem sido achados outros macacos — e até micos — com os mesmos sintomas em diversas regiões da cidade, tanto na última segunda quanto nesta terça.

Ao todo, sete macacos-pregos e quatro micos foram encontrados. Destes, apenas um macaco (o filhote achado por Isadora) e três micos sobreviveram. A maioria apareceu na Praça Pio Onze, mas também houve aqueles que estavam em Cosme Velho, Tijuca, Quintino e até mesmo em outro local do próprio bairro do Jardim Botânico. Em comum, três fatos: só havia fêmeas; todas apresentavam um quadro neurológico que as deixava com pupila dilatada, tremendo e dificuldades de se mover; e morreram de hiperemia pulmonar (o início de uma infecção pulmonar, que pode ser consequência da herpes).

De acordo com o médico veterinário e biólogo que está à frente dos casos, Jeferson Pires, responsável pelo Centro de Recuperação de Fauna da Universidade Estácio de Sá, só será possível cravar o que realmente causou a morte dos animais quando sair o resultado dos exames, embora acredite que se trata de “algum surto infeccioso”. O veterinário está, agora, preocupado com a conscientização das pessoas. Ele afirma que, apesar da boa vontade de quem ajuda e leva esses animais às clínicas, o recomendado é acionar a Patrulha Ambiental.

— O que mais preocupa é que as pessoas, numa tentativa de ajudar, pegam os animais e levam à clínica. É totalmente não recomendado que façam isso. A doença pode passar. A partir do momento em que pegam um animal desses, as pessoas se expõem a um vírus ou doença infecciosa. Não recomendamos que entrem em contato de forma alguma — enfatizou Pires.

Para o veterinário, a doença que está matando os macacos pode ter sido transmitida pelo ser humano. Da mesma forma, pode acontecer uma transmissão inversa: destes animais para o homem. Embora não haja registro disso, diz ele, “pode ser extremamente grave se acontecer”:

— Nosso herpes é extremamente patogênico para eles. É muito comum as pessoas comerem a banana e fornecerem para os macacos depois, por exemplo. Podem estar contaminando esses animais.

IBAMA SE MANIFESTA

Embora não seja o responsável direto pelo caso, o Ibama se manifestou e fez coro ao pedido à população de que não toque nesses macacos. O órgão federal afirmou no comunicado emitido que, para resgatar esses animais, é preciso entrar em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. É ela que faz o resgate, por meio da Patrulha Ambiental. Portanto, o caso é de responsabilidade municipal, e não federal. A retirada de animais mortos, porém, é feita pela Comlurb, e não pela Secretaria, como informou o Ibama na nota abaixo:

“A princípio, foi descartado o envenenamento como causa da morte dos macacos-pregos e micos-estrelas registradas nos últimos dias no Rio de Janeiro. Os exames ainda estão sendo realizados pelo Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) da Universidade Estácio de Sá. Os resultados até o momento apontam para um surto infeccioso. O Ibama prossegue acompanhando o caso e alerta a população para evitar contato com os primatas para prevenir contaminações. A orientação do instituto é para não tocar nos animais com sintomas de doença. Para resgatar micos ou macacos doentes ou mortos, a população deve entrar em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente.”

O CONTEXTO

O bairro Jardim Botânico, onde apareceram a maioria dos macacos, já sofreu mais de uma vez num passado recente com mortes de animais por envenenamento. Os relatos vão desde a péssima experiência sofrida pela artista Isadora Medella, que perdeu dois animais de estimação, até o próprio presidente da Associação de Moradores de Amigos do bairro (AMAJB), Mauro Pacanowski, que afirmou que “esse mesmo caso” já teria acontecido “umas duas ou três vezes”.

— De vez em quando alguém resolve fazer isso, não sei com qual motivação. Já houve de gatos e de macacos — afirma ele, que depois adota a cautela: — Ainda não sabemos se foi envenenamento mesmo. Já acionamos todas as autoridades que poderiam ajudar, para ver se tem algum indício que faça descobrir o que aconteceu. Precisamos dos órgãos que conhecem os animais para saber o que houve, porque os moradores estão muito assustados. Estamos procurando tomar providências.

A própria Isadora, pelo Facebook, mesma rede social em que denunciou o possível envenenamento dos macacos, fez outro comunicado com as palavras do médico veterinário Jeferson Pires para que as pessoas não toquem nos animais, diante da possibilidade de ser uma infecção viral. “É importantíssimo centralizar estes atendimentos já que desta forma conseguimos ter uma noção real da extensão da patogenia. Indico que qualquer pessoa que tenha entrado em contato procure um médico e fale sobre o que aconteceu”, reproduziu ela.

Já a médica veterinária Loide Machado, da Clínica Prosilvestres, para onde Isadora levou as duas macacas que encontrou, informou que os animais foram direcionados para o Dr. Jeferson Pires e que, mesmo com a semelhança dos sintomas que os bichos apresentavam para um envenenamento, era preciso fazer os exames, pois “o mais provável é que fosse outra coisa”.

— Os macacos têm uma série de doenças virais. Apesar dos sintomas serem muito compatíveis e de haver um histórico disso na região (em que a artista os encontrou), é mais provável que não tenha sido envenenamento. As duas fêmeas foram encaminhadas no mesmo dia ao centro de pesquisas. A filhote está estável em quarentena — afirmou ela.

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