Fenômeno de Raynaud: entenda essa condição médica

Fenômeno de Raynaud: entenda essa condição médica

Neste artigo, vamos falar sobre uma condição médica conhecida como Fenômeno de Raynaud (lê-se “Fenômeno de Reinô“) ou ainda mal de Raynaud, um problema que pode tornar-se incômodo e causar preocupação para quem é acometido e afeta homens e mulheres de todas as idades.

DOENÇAS-Autor: Alan Niemies - Última atualização em: 05/11/2016

O que é o Fenômeno de Raynaud?


O Fenômeno conhecido como Raynaud é uma condição médica em que, por uma série de motivos, ocorre diminuição do calibre de pequenas artérias das extremidades do nosso corpo. Mais comumente, afetam dedos das mãos e/ou dos pés. Porém, isso também pode acontecer (com menos frequência) no nariz, nas orelhas e até mesmo no pênis, pois todos esses locais são considerados extremidades do corpo.

Geralmente, ocorre após exposição ao frio, emoções fortes ou em resposta ao estresse.

Quando isso acontece, há a diminuição do fluxo sanguíneo para as extremidades afetadas, o que leva a uma alteração da coloração dos dedos. Essa alteração de cor costuma apresentar três fases distintas:
Inicialmente, os dedos afetados tornam-se pálidos (esbranquiçados). Isso acontece pela diminuição do fluxo sanguíneo na região, causada pela vasoconstrição das pequenas artérias, levando à isquemia.
Logo depois, os dedos apresentam cianose (cor azulada), por conta da falta de oxigênio chegando na região.
Por fim, a região afetada fica avermelhada e reaquecida. Isso acontece porque, ao fim do episódio, as pequenas artérias que estavam com seu calibre diminuído voltam ao normal e o sangue retorna a circular. Isso é chamado de hiperemia reativa: por conta da recuperação rápida do fluxo sanguíneo, os dedos ficam mais avermelhados que o normal.

Nem todas as três fases precisam estar presentes. Alguns pacientes apresentam apenas a palidez seguida da cianose, enquanto outros podem ainda ter somente a cianose.

Exemplo de Fenômeno de Raynaud após exposição à água gelada

Outros Sintomas

Além da alteração da temperatura, alguns outros sintomas do Fenômeno de Raynaud podem estar presentes durante os episódios:
Sensação de frio;
Amortecimento;
Alteração da sensação (parestesia), como formigamentos ou agulhadas.
Na fase de hiperemia, pode haver uma sensação de dor latejante.

Quem é afetado?

O Fenômeno de Raynaud afeta até:
3 a 12,5% dos homens;
6 a 20% das mulheres.

Portando, as mulheres costumam ser as mais afetadas. Além disso, pessoas de qualquer idade podem ser acometidas.

Esse fenômeno também aparece com maior frequência em pessoas que moram em locais com temperaturas mais baixas (como o sul do nosso país).

Existem ainda alguns fatores de risco para desenvolver Fenômeno de Raynaud:
História de pessoas com o mesmo problema na família (parentes de primeiro grau – irmãos, pai e mãe);
Estresse emocional;
Tabagismo;
Idade (quanto maior, maiores as chances de apresentar o Fenômeno);
Exposição ao estrogênio (nas mulheres);
Uso de ferramentas vibratórias com muita frequência.

Exemplos de Fenômeno de Raynaud

O que causa o Fenômeno de Raynaud?

Nós podemos dividir as causas do Raynaud em duas: primária ou secundária.
Doença de Raynaud (Fenômeno de Raynaud Primário)

Quando sabemos que o Fenômeno de Raynaud não está envolvido com nenhuma doença subjacente, podemos chamá-lo de fenômeno primário ou, ainda, Doença de Raynaud.

Só se pode considerar o Raynaud como primário depois que todas as possíveis causas secundárias de Raynaud forem excluídas, ou seja, podemos chamar isso de um diagnóstico de exclusão.

O Fenômeno de Raynaud é diferente da Doença de Raynaud. Esta última é o nome dado ao fenômeno quando já foram excluídas outras doenças que podem causar o problema.

Mais de 50% de todas as pessoas com Raynaud apresentam a forma primária. As mulheres, como você já pode ter visto no início do artigo, são sempre as mais afetadas. No caso do Raynaud primário, elas são 5 vezes mais afetadas que os homens. Ele também costuma aparecer em torno dos 20 a 40 anos de idade.

Além disso, os dedos das mãos são acometidos com mais frequência que os dedos dos pés.
Fenômeno de Raynaud Secundário

O fenômeno de Raynaud secundário é aquele onde identificamos uma doença associada. Existem várias doenças que podem levar ao surgimento dos episódios de Raynaud. Ele afeta:
80 a 90% das pessoas com diagnóstico de Esclerose Sistêmica (e, em 30% dos casos, é o primeiro sintoma a surgir). Pode ainda ser o único sintoma da doença durante anos. No caso da Esclerose Sistêmica, o Raynaud acontece por conta de anormalidades nos vasos sanguíneos, que tornam-se danificados e tortuosos.

85% das pessoas com Doença Mista do Tecido Conjuntivo (DMTC);
40% dos portadores de Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES);
25% dos pacientes com Dermatomiosite ou Polimiosite;
10% de pessoas com Artrite Reumatoide;
18-37% das pessoas com Síndrome de Sjögren.

O Fenômeno de Raynaud pode ser o único sintoma da Esclerose Sistêmica durante anos. Por isso, todo portador de Raynaud deve ser acompanhado e os sinais e sintomas (bem como alterações laboratoriais) dessa importante doença devem ser pesquisados por um médico competente.

Existem ainda outras doenças que podem cursar com o surgimento do Fenômeno de Raynaud:
Doenças que levam a oclusão arterial: Tromboangeíte Obliterante (Doença de Buerger), Aterosclerose, Tromboembolismo, Síndrome do Túnel do Carpo e Síndrome do Desfiladeiro Torácico.
Doenças do sangue: Crioglobulinemias (que podem estar associadas a Hepatite B ou C), Criofibrinogenemia, Policitemia Vera, Leucemia, Trombocitose, Paraproteinemias, deficiência de proteínas específicas (proteína C, proteína S e antitrombina III), Mutação do Fator V de Leiden.
Medicamentos e drogas: beta-bloqueadores (como o Propranolol, Atenolol, Bisoprolol, Metoprolol, Carvedilol, dentre outros), derivados do ergot (como a Ergotamina), Clonidina, Metisergida e Quimioterápicos (Bleomicina, Vimblastina, Cisplatina e Gencitabina), Anfetaminas e Cocaína.
A Terapia de Reposição Hormonal com Estrogênio também aumenta frequência de Raynaud. Porém, o uso de Estrogênio com Progesterona não.

Hipotireoidismo.

Como você pode ver, a lista de possíveis causas do Fenômeno de Raynaud secundário é longa. Somente uma consulta com um(a) médico(a) capacitado(a) para realizar estes diagnósticos diferenciais poderá levar a uma boa avaliação do seu caso.

Mais de 50% dos portadores do Fenômeno de Raynaud não tem uma causa identificável para o surgimento do quadro. As restantes apresentam uma doença secundária que deve ser identificada e tratada.
Diagnóstico

Na maioria dos casos, não é necessário nenhum exame adicional para fazer o diagnóstico do Fenômeno de Raynaud.

Porém, quando se suspeita de uma causa secundária, alguns testes podem ser solicitados pelo seu médico. Nós suspeitamos de causas secundárias em algumas situações especiais:
Surgimento de sinais, sintomas ou alterações laboratoriais de Esclerose Sistêmica ou outras doenças reumatológicas, como:
Anormalidade nos capilares debaixo das unhas;
Isquemia digital grave (que leva a cicatrizes, úlceras ou gangrena nos dedos);
Aumento da Velocidade de Hemossedimentação;
Presença de autoanticorpos específicos de doenças reumatológicas.
História de exposição a medicamentos, drogas e componentes químicos.
Pessoas com menos de 12 anos de idade;
Sinais de obstrução arterial, como diminuição dos pulsos em extremidades.

É necessário ainda excluir outras doenças como Distrofia Simpático-Reflexa e Acrocianose.

Tratamento

A maioria dos pacientes com o Fenômeno de Raynaud apresenta episódios pouco frequentes e de leve intensidade. O principal tratamento é evitar a exposição ao frio: esteja sempre com roupas preparadas para o frio, especialmente se você vive em regiões mais geladas. Não apenas luvas e meias quentes são necessárias, mas também é preciso proteger o tronco, membros e a cabeça.

É também importantíssimo procurar uma forma de cessar o Tabagismo. O Fenômeno de Raynaud, em pacientes fumantes, pode aumentar a chance da necessidade de amputação de membros. É também o Fenômeno de Raynaud um dos principais sintomas da temida Tromboangeíte Obliterante, que afeta praticamente apenas os fumantes.

O tratamento com medicamentos geralmente não é necessário, sendo reservados apenas para situações mais graves ou incômodas. Nesses casos, podem ser utilizados medicamentos como:
Os Bloqueadores do Canal de Cálcio (BCCs) como o Anlodipino e o Nifedipino, que são geralmente usados no tratamento da Hipertensão.
Antagonistas alfa-adrenérgicos como Prazosin, Doxazosin e Terazosin (usados no tratamento da Hipertensão e também da Hiperplasia Prostática Benigna).
Inibidores da Fosfodiesterase-5, como o Sildenafil (o popular Viagra®) e o Tadalafil. Esses medicamentos são úteis principalmente no Raynaud secundário, como na Esclerose Sistêmica.

Em casos de difícil tratamento mesmo com medicamentos, é possível optar ainda por um procedimento conhecido como Simpatectomia Digital. Esse procedimento é similar àquele usado no tratamento do suor excessivo (pois também é uma Simpatectomia).

“É grave? Tem cura?”

Em torno da metade dos casos de Raynaud, como você leu no artigo, são considerados benignos e não estão associados a outras doenças. Nesses casos, o problema não costuma progredir e 2 em cada 3 portadores terão a remissão dos sintomas após 7 anos.

Em 10 a 20% dos pacientes diagnosticados inicialmente como Raynaud primário, aparecerá uma doença secundária do tecido conjuntivo (como a Esclerose Sistêmica) dentro de 10-11 anos. Nos pacientes com Raynaud secundário, podem ocorrer ulcerações, formação de cicatrizes e gangrena das extremidades acometidas.

Por isso, é importantíssimo o acompanhamento cuidadoso de pacientes com Raynaud. Caso uma doença secundária seja identificada, deve ser tratada. Se você tem Raynaud, é importante fazer uma primeira consulta para excluir doenças secundárias por meio de exames laboratoriais. E se você já é acompanhado(a) por um médico(a) e passou a apresentar novos sintomas, faça uma nova consulta.

Espero que esse artigo possa te ajudar a entender melhor o Fenômeno de Raynaud. Se tiver dúvidas, deixe o seu comentário ou acesse nossa seção de Perguntas & Respostas. Até a próxima!

Referências:
DynaMed [Internet]. Ipswich (MA): EBSCO Information Services. 1995 – . Record No. 115788, Raynaud phenomenon; [atualizado em 18 de Agosto de 2016, acessado em 04/11/2016]; Disponível em http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=dnh&AN=115788&site=dynamed-live&scope=site. Cadastro e login necessários.
Fauci, Anthony S. Harrison’s principles of internal medicine. Vols. 1+2. McGraw-Hill Education, Medical Publishing Division (2015).
Landry, Gregory J., et al. “Long-term outcome of Raynaud’s syndrome in a prospectively analyzed patient cohort.” Journal of vascular surgery 23.1 (1996): 76-86.
http://medsimples.com/fenomeno-de-raynaud/


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