O tabu do suicídio assistido no Brasil: morte digna ou crime contra a vida?

O tabu do suicídio assistido no Brasil: morte digna ou crime contra a vida?


Para alguns, como o escritor Carlos Heitor Cony, suicídio assistido permite morte rápida e indolor; para outros, como líderes católicos, é inaceitável e dá margem a abusos.

Por BBC-16/02/2017 09h38 Atualizado 16/02/2017 09h38


"Ninguém quer morrer sofrendo, chorando e gritando. Eu, pelo menos, não. Quero morrer numa boa", diz Carlos Heitor Cony (Foto: Divulgação)

Aos 90 anos, o escritor Carlos Heitor Cony não perde o tom jocoso.

Quando indagado sobre o que ainda falta para se sentir realizado, o autor de O Ventre, O Piano e a Orquestra e Quase Memória, romances premiados da literatura brasileira, não pensa duas vezes: "Morrer". E arremata: "Mas, se quiserem me dar o Nobel, aceito!".

Desde que foi diagnosticado com um câncer linfático, em 2001, Cony tem pensado muito na morte. "De certa forma, somos todos terminais desde que nascemos", escreveu em O Homem Terminal.

"Envelhecer é porcaria. Um homem depois dos 50 é anti-higiênico. Por isso, eu me mataria um dia", confidenciou em Memorial do Inverno.

O câncer obrigou Cony a fazer quimioterapia, o que enfraqueceu seus braços e pernas. Em 2013, levou um tombo na Feira dio Livro de Frankfurt, que gerou um coágulo no cérebro "do tamanho de uma maçã".

Hoje, Cony anda de cadeira de rodas, perdeu o movimento do lado direito do corpo e compara o apartamento onde vive, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio de Janeiro, a uma UTI. Por essas e outras, se diz solidário a quem cogita a hipótese de suicídio assistido.

"Ninguém quer morrer sofrendo, chorando e gritando. Eu, pelo menos, não. Quero morrer numa boa", avisa.

Mas, para evitar abusos e mal-entendidos, ressalva, algumas premissas devem que ser obedecidas. Uma delas é o paciente manifestar sua vontade por escrito, com a concordância de três ou quatro membros da família.

Outra é o médico emitir um atestado comprovando que o paciente é terminal e o estado dele, irreversível.

"Há casos em que os remédios já não produzem mais efeito, a família gasta um dinheiro que não tem e, pior, o paciente não tem mais condições de viver, só de sofrer. Se não há uma solução médica ou científica, o suicídio assistido é a saída mais humana que existe", afirma Cony.

Fonte: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/o-tabu-do-suicidio-assistido-no-brasil-morte-digna-ou-crime-contra-a-vida.ghtml


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