Identificada no Brasil a primeira perereca fluorescente do mundo

Identificada no Brasil a primeira perereca fluorescente do mundo

RIO — Sob a luz do dia, a perereca Hypsiboas punctatus apresenta uma coloração que mistura tons verdes, amarelos e vermelhos, mas durante a noite, este anfíbio brilha em azul e verde fluorescente. A descoberta foi feita por pesquisadores brasileiros e argentinos, e publicada esta semana no periódico “Proceedings of the National Academy of Sciences“. Trata-se da descrição da primeira espécie vertebrada terrestre conhecida a possuir tal característica.

Sérgio Matsuura - O Globo -Publicado em15/03/17 06:00
A Hypsiboas punctatus possui três moléculas responsáveis pela fluorescência Foto: Proceedings of the National Academy of Sciences

— Essa espécie é natural do Pantanal brasileiro e dos países vizinhos que compartilham do mesmo bioma, como Argentina e Paraguai — afirma o pesquisador Norberto Peporine Lopes, professor da Faculdade de Farmácia do campus de Ribeirão Preto da USP e coautor do pesquisa. — A descoberta contraria a ideia de que a fluorescência no ambiente terrestre só existiria em insetos.

É uma característica diferente da bioluminescência, como a dos vaga-lumes, pois a luz não é gerada por reações químicas. A fluorescência é a habilidade de absorver radiação com comprimento de onda menor do que a luz visível, e reemiti-la em comprimentos de onda maiores, visíveis ao olho humano. Ela é extremamente rara, sobretudo em animais terrestres, e nunca foi reportada em nenhuma das cerca de 7.600 espécies de anfíbios conhecidos. Algumas espécies de peixes cartilaginosos e tartarugas marinhas possuem essa habilidade, além de insetos e alguns pássaros.

A descoberta aconteceu por acaso. O herpetólogo argentino Carlos Taboada, da Universidade de Buenos Aires, resolveu analisar a H. punctatus atrás de uma fluorescência vermelha, porque o animal possui o pigmento biliverdina, que dá aos anfíbios a coloração verde, mas que em alguns insetos emite a fluorescência vermelha. Mas quando os pesquisadores iluminaram um espécime com raios ultravioleta, se depararam com um brilho verde intenso. Na natureza, as pererecas absorvem a luz da Lua.

Segundo os pesquisadores, a fluorescência se deve a três moléculas — hyloin-L1, hyloin-L2 e hyloin-G1 — presentes no tecido linfático, na pele e nas secreções. Elas possuem uma estrutura em formato de anel e uma cadeia de hidrocarbonetos, e são únicas entre moléculas fluorescentes conhecidas em animais. Algumas plantas possuem substâncias similares.

— Essa substância pode abrir uma nova classe de produtos — disse Lopes. — A fluorescência inspirou vários produtos, como a tomada que você enxerga no escuro da noite. Após a síntese dessas moléculas, nós veremos o potencial para aplicações comerciais.

FERRAMENTA DE COMUNICAÇÃO


As funções da fluorescência nessa perereca pantaneira ainda não são claras, mas os pesquisadores acreditam se tratar de uma ferramenta de comunicação para atração de parceiros. Os anfíbios, de maneira geral, têm como forma de comunicação o canto, pela audição, e a química dos feromônios. A fluorescência pode ser uma terceira forma de reconhecimento, o visual.

— Eles desenvolveram a capacidade de reconhecer parceiros em potencial à distância, visualmente — disse Lopes. — Simulações mostram que esse brilho que ela emite é mais facilmente reconhecida pelos olhos das pererecas que pelo olho humano, sugerindo a função de comunicação.

A H. punctatus possui uma característica incomum entre anfíbios, que pode estar relacionada com a fluorescência: a pele translúcida. Cerca de outras 250 espécies de pererecas possuem essa mesma característica, e agora pesquisadores de todo o mundo estão correndo para fazer análises em busca da fluorescência.

— Nós estamos recebendo mensagens de cientistas de vários países por detalhes da nossa pesquisa. Agora, eles irão procurar a fluorescência em outras espécies — disse Lopes.

Leia mais: http://oglobo.globo.com/oglobo-21061468#ixzz4bW322com

Comentários