O estudo que chocou o mundo da psiquiatria: a experiência de Rosenhan

O estudo que chocou o mundo da psiquiatria: a experiência de Rosenhan

Em 1973, um estudo chamado “On Being Sane in Insane Places” (Sendo sano em lugares insanos) chocou psicólogos e psiquiatras de todo o mundo. Para eles, nada pode ser novamente o que já foi um dia. Vamos ver o que tornou este estudo tão notável.

O experimento Rosenhan foi conduzido por um psicólogo chamado David Rosenhan, e desde então tem sido considerado um dos estudos mais marcantes do campo da psicologia.

Por Lucas Em 28/07/2017


O que Rosenhan esperava descobrir era se uma doença mental poderia ser diagnosticada com absoluta certeza. Ele era bastante pessimista em relação a isso, então tentou provar que os critérios que até então utilizavam não eram baseados em fatos científicos.

Como ele conduziu o experimento?



8 pessoas, incluindo três psicólogos, um pediatra, um psiquiatra, um pintor, uma dona de casa e o próprio Rosenham, se internaram em um hospital psiquiátrico com queixas de alucinações auditivas. Mas, claro, eles não tinham tais problemas. Eles concordaram em agir de forma normal e dizer aos médicos que eles estavam bem depois de certo tempo.

É aí que tudo começou a ficar estranho. A administração do hospital e os médicos não acreditavam que alguém poderia se recuperar completamente. Os pacientes insistiram que estavam bem, mas o mínimo período de tempo que um deles permaneceu por lá, foi de 7 dias.

Rosenham não havia concluído o estudo até então. Ele continuou investigando…



Eles finalmente conseguiram sair do hospital. Posteriormente, o grupo visitou 12 clínicas diferentes utilizando nomes falsos e as mesmas queixas – alucinações auditivas. Eles se internaram em vários tipos de clínicas e hospitais para verificar se a qualidade da instalação fazia diferença durante o tratamento: de hospitais rurais a hospitais universitários e clínicas privadas.

Assim como os hospitais, os pseudopacientes possuíam diferentes origens, níveis educacionais, idade e ocupação, cada vez que utilizavam diferentes nomes falsos para não serem reconhecidos.

As coisas ficavam cada vez mais estranhas: todos os pacientes foram diagnosticados com alguma doença.



Todos os pseudopacientes que fingiam ouvir vozes sobrenaturais alegavam que ouviam palavras como “vazio”, “vazias” e “baque”, que foram escolhidas intencionalmente por Rosenhan, uma vez que essas palavras podem – supostamente – significar sinal de uma crise existencial. Depois que os médicos diagnosticaram 7 deles com esquizofrenia e 1 com psicose maníaco-depressiva, todos foram hospitalizados.

Os membros do grupo começaram a agir de forma normal e disseram aos médicos que já não ouviam as vozes logo após serem internados na clínica. Convencer o pessoal do hospital, no entanto, levou 19 dias em média. Uma vez, um dos pseudopacientes foi mantido nas instalações por 52 dias.

Os médicos ainda não estavam convencidos…




Todos os pseudopacientes foram diagnosticados com esquizofrenia “em remissão” antes da liberação. Rosenhan pensou que isso implicava que os problemas mentais não eram vistos como doenças que poderiam ser completamente curadas, porque ter esquizofrenia “em remissão” não significa que você está curado. Embora ninguém considere um paciente com câncer recuperado como “ainda doente”, ter ilusões auditivas uma vez na vida é suficiente para a psiquiatria te rotular pelo resto da vida.

Os resultados iniciais do experimento criaram uma grande controvérsia entre os psiquiatras.



Na verdade, muitos psiquiatras de todo o país expressaram raiva contra Rosenhan e alegaram que nunca cairiam nessa armadilha e poderiam definitivamente distinguir os pseudopacientes dos reais. Além disso, um dos hospitais entrou em contato com Rosenham e lhe pediu que enviasse pseudopacientes sem aviso prévio.

Tal hospital afirmou que o que aconteceu nestes hospitais do experimento nunca aconteceria com eles, e eles certamente poderiam identificar que um paciente estava fingindo seus sintomas.

Rosenhan aceitou o desafio…

Nos 3 meses seguintes, a administração do hospital suspeitava que 41 dos 193 pacientes recém-admitidos eram pseudopacientes, dos quais 19 consideravam perfeitamente saudáveis.

Aperte os cintos, porque Rosenhan fez um escândalo no mundo da psiquiatria depois disso: ele não havia enviado nenhum paciente ao hospital.

Após a segunda parte do estudo acabar, os psiquiatras se deram por vencidos.



Rosenhan escreveu “é claro que não podemos distinguir o sano dentre os insanos nos hospitais psiquiátricos (…) mas o que podemos dizer a respeito das 19 pessoas suspeitas de serem ‘sãs’ de acordo com um psiquiatra e um membro da equipe? (…) não há como saber. Uma coisa é certa: qualquer processo de diagnóstico como estes que são utilizados hoje em dia estão facilmente expostos a erros enormes, por isso não podemos dar muita confiança aos resultados”.

Há um lado mais impressionante na história.


Na primeira parte do experimento, alguns pacientes no hospital suspeitaram que o primeiro grupo de pseudo-pacientes enviado por Rosenhan fingia seus sintomas. Para ser mais específico, 35 dos 188 disseram que eles não estavam completamente loucos. “Você não está louco. Você é jornalista, ou professor. Está aqui somente para revisar o hospital”, diziam.

Os funcionários do hospital, no entanto, nunca perceberam que eram pacientes de mentira.

Concluindo, a Experiência de Rosenhan conseguiu deixar uma marca no mundo da psiquiatria para sempre.

Após o estudo ter sido publicado, a Associação Americana de Psiquiatria alterou o Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais. Além disso, os experimentos de Rosenhan contribuíram para as reformas nos hospitais psiquiátricos e a ideia de liberar um paciente começou a se tornar mais aceitável para os médicos.
Essa é mais uma prova de que as melhorias científicas podem mudar o curso da história, graças a pessoas tão pioneiras como Rosenhan.



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