Da cerveja à homossexualidade

Da cerveja à homossexualidade


Rodrigo Baia 12 de novembro de 2014 Edificação



Perdi as contas de quantas vezes já tive de responder perguntas como: “crente pode beber cerveja?” ou “você acha que os homossexuais vão pro céu?”. Não sei quanto a você, mas me recuso a limitar o evangelho de Jesus restringindo-o a idiotices superficiais como estas, até porque tais respostas nunca serão convergentes entre todos os cristãos. A pergunta mais intrigante a ser feita é: se as pessoas nunca chegarão a um consenso, porque perder tempo discutindo o que o próprio Cristo tratou como secundário em Seu ministério no meio do povo?

Por que investimos tanto tempo em assuntos que eternamente serão divergentes e pouco tempo naqueles que são unânimes?

Nós somos assim.

Desde os tempos de escola adoramos ver uma briga rolando, e se for preciso até incentivamos, o importante é garantir entretenimento. Somos atentados, corremos atrás de falácias. Veja se você clicou neste texto só porque o título lhe chamou atenção e cheirou polêmica.

Será que estou falando algo impensado?

“Nossos” líderes religiosos se levantam como leões em uma desprezível e desnecessária defesa de um evangelho que não os pertence, mas que tem origem na eternidade pelo “sacrifício do Cordeiro, sem mácula, conhecido com efeito desde antes da fundação do mundo” (I Pedro 1.18-20). Deus não precisa de defensores, de homens e mulheres que caminham sob a pretensão de cumprir as palavras de Jesus quando disse: “se odiaram a mim, também odiarão a vós” (João 15.18), lembre-se que o Mestre não era odiado por levantar a bandeira de A ou B, mas por acolher os renegados, por se juntar com prostitutas, por salvar adúlteros, por se lembrar dos esquecidos, dos enfermos, dos rejeitados de uma sociedade endurecida por uma religião. O Reino de Deus carece de agentes do amor, semeadores de vida, anônimos que reconhecem no outro a razão de levantar todas as manhãs, pessoas que não olham para condição social ou orientação sexual, mas que enxergam o ser humano por trás da capa de seja lá o que for.

Jesus conquistava os “diferentes” com amor e aceitação e nunca com discurso guerrilheiro ou espada nas mãos.

Pra onde nós estamos caminhando? Não conseguimos nem lidar com opiniões diferentes, não somos misericordiosos, queremos literalmente levantar muros só porque a nossa vontade ficou presa em uma minoria, não conseguimos reconhecer como a vida é multiforme, controversa, percebida de maneira diferente. Veja que por diversas vezes nas escrituras, nos deparamos com a expressão: “o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó” e não “o Deus de Abraão, Isaque e Jacó”, pois cada um destes teve uma percepção diferente a respeito da Trindade, não que fossem três coisas diferentes, mas Deus é tão extenso e indescritível, que nada pode contê-lo, Ele é quem contém todas as coisas, portanto se relaciona comigo de maneira diferente do que com você. Como conceber que o Todo Poderoso se enquadra apenas na minha lógica e na minha maneira de pensar?

“Onde sobra intolerância falta inteligência” (O sol e a peneira – O Teatro Mágico)

Aonde foi parar a pregação de João 15.12 (Que vos ameis uns aos outros como eu vos amei)? E a de Mateus 5.6 (Felizes são os que tem fome e sede de justiça)? Cadê aqueles que consideram os outros superiores a si mesmos (Filipenses 2.2)? Aonde estão aqueles que são dados a morte para que a partir deles seja gerado vida (João 12.24)?

Com o coração em pedaços, quero gritar a você meu querido e minha querida, um apelo da alma de alguém que tem encontrado o Cristo na vida e não na religião. Ao invés de lotar os auditórios correndo atrás da próxima benção ou aplaudir o dito pastor que se diz defensor da família, olhe para o lado, neste exato momento tem alguém chorando pela perda de um filho fruto de uma violência descabida, ao invés de procurar argumentos para tentar provar que o homossexual está trilhando um caminho para o inferno, peça que este se junte a você e unidos levem um prato de comida a quem tem fome. Tenho certeza que o brilho da vida de Cristo através da sua falará mais do que qualquer argumento que consiga elucidar.

Peço perdão se esperava um texto que respondesse de alguma forma suas inquietações, fossem elas pra dar vazão a algo que está latente dentro de você ou se esperava argumentos para jogar na cara de alguém o quão errado ele(a) está por tomar determinas decisões. Ainda o(a) inspiro a pedir ao Espírito Santo que lhe revele por qual caminho deve seguir, o das multidões, das obviedades, das negligências e insensibilidade discursiva ou o do indivíduo, do ser humano, daqueles que enxergam muito além do “outro” tornando-o o “próximo”.

Imagine que você está para passar os últimos minutos de sua vida com as pessoas que caminharam com você um longo percurso, com muito amor, sofrendo juntos, se alegrando juntos, presenciando os maiores feitos da história, creio que você, assim como eu, escolheria deixar o recado mais importante de todos neste resto de tempo, como se pudesse resumir tudo o que aconteceu durante todo o período que estiveram lado a lado, pois é, penso que foi exatamente o que Jesus fez com seus amigos.

Que Cristo nos quebre completamente até reconhecermos nossa primeira vocação, nosso verdadeiro chamado e principal ministério, o de lavar pé descalços.

NEle em amor e contrição.




Rodrigo BaiaAmado furiosamente pelo Pai e participante de Sua missão. Pastor, publicitário, teólogo em formação e totalmente dependente da Graça que não se pode comprar.

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