PAÍS DIVIDIDO ?
Por : Adriano Benayon
Só insensatos duvidam que a união faz a força. Quanto mais
dividido um país, mais fraco ele fica. Por isso, os impérios, sempre
usaram a estratégia de dividir os povos a conquistar.
“Divide et impera” foi
o lema da Roma Antiga, durante os setecentos anos em que dominou o mundo, e de
outros, antes dela. Tem sido seguido, com semelhante perfídia e
brutalidade, pelo império britânico e por seu sucessor e associado, o
angloamericano, nestes 350 anos.
O Brasil é vítima da predação imperial, desde quando exportava
suas mercadorias sob direção das casas comerciais britânicas e tinha as
finanças externas e a infra-estrutura controladas por bancos e empresas
estrangeiras.
Ao aparecer, com capitais nacionais, a promissora
industrialização, na 1ª metade do século XX, antes, durante e depois da
Revolução de 1930, o império, descontente com isso, fomentou o divisionismo em
nosso País, justamente em São Paulo, onde despontara a industrialização, e de
onde saía o café e outros produtos exportados.
No início dos anos 30, tendo as receitas da exportação caído 2/3
em relação a 1929, sobreveio a falsamente denominada revolução
constitucionalista de 1932. De fato, o governo chefiado por Vargas já
organizava eleições e o processo que culminou na Constituição de 1934.
O movimento de 5 de julho de 1932, de conotações separatistas,
visava, na realidade, sustar a industrialização e reamarrar o comércio exterior
à finança e à direção imperiais.
Foi liderado pelos barões da pseudo-elite agrária da Av.
Paulista, econômica e culturalmente vinculados a Londres, juntamente com a
grande mídia prostituída.
Atitude irracional, pois o retrocesso ao modelo colonial
prejudicaria os industriais e até os cafeicultores, que estavam sendo salvos da
ruína pela política do presidente Vargas, através da compra pelo governo dos
invendáveis estoques de café e de sua queima.
Esse é um dos antecedentes do presente tsunami de
ignorância, que leva os pró-imperiais de hoje a alimentar mentiras, como a que
atribui as misérias do País ao Nordeste e ao Norte, quando elas
provêm do modelo dependente, adotado a partir da queda de Vargas, em 1954,
quando a política passou a favorecer os carteis transnacionais.
É por causa desse modelo que a economia do Brasil se
desnacionaliza e se industrializa, que as transferências de renda das
transnacionais para o exterior só aumentam e que se criaram mecanismos para
fazer crescer, sem parar, a dívida pública.
Para poder encobrir os fatos importantes, o império,
desde os anos 50, investe bilhões de dólares, em contracultura,
desinformação e aviltamento dos padrões éticos e culturais, além de cooptação
de pessoas em todas as instituições públicas e privadas de maior porte.
Essa é a corrupção da grossa, incrementada aceleradamente nos
mandatos de FHC (1995-2002), que a mídia sequer menciona. É a que faz
dezenas de milhões de brasileiros crerem que um governo do
PSDB, vinculadíssimo aos interesses imperiais reduza, e não aumente,
a corrupção.
Apesar do tsunami de ignorância gerado pelo império e das
fraudes eleitorais, o povo brasileiro escapou da radicalização do entreguismo.
Entretanto, não escapou de seu avanço, impregnado que está na estrutura
econômica e nas instituições.
A presidente é alvo de intensa campanha de desestabilização,
visando, no mínimo, a acuá-la a fazer concessões mais radicais que as que têm
feito a banqueiros e transnacionais.
As influências imperiais estão dentro do próprio Executivo e
suas agências reguladoras, e também no PT, que nunca mostrou consciência
clara da questão nacional em face das transnacionais e das potências que as
representam.
Além disso, o Congresso e os executivos e legislativos estaduais
têm composições cada vez menos favoráveis aos interesses do País, e os
demais poderes e instituições da República estão grandemente infiltrados
pelos esquemas pró-imperiais.
Ilustrativa de não ter cessado a campanha de desestabilização da
presidente, sequer no dia das eleições, foi a balela proclamada nas grandes
redes de TV, na mesma noite do resultado, segundo a qual o País estaria
dividido, diante do apertado o resultado das urnas.
Logo a seguir, comentaristas e pseudocientistas políticos
passaram a difundir a estória de que a divisão do País se manifesta ao longo de
linhas de classes sociais e de áreas geográficas.
Mais relevante do que fomentar a divisão entre as regiões Norte
e Nordeste e o Sul, seria reconhecer a falta de acesso do grosso da população
do País inteiro a condições de vida condizentes com os excelentes recursos
naturais do País e com as possibilidades tecnológicas dele, se não tivesse sido
alijado do real desenvolvimento, devido ao modelo econômico dependente.
Esse modelo causa o endividamento, os juros absurdos, as
transferências de renda ao exterior, o atraso tecnológico e tudo mais que
enfraquece o País.
Ele vem de meados dos anos 50, sendo, pois, ridículo
atribuir suas mazelas só ao presente Executivo federal. Cabe, condenar, em
primeiro lugar, governos que mais contribuíram para acentuá-las.
O ridículo chega ao absurdo, quando os entreguistas acusam o
Executivo de que sua política econômica afugenta os investidores. Ora, o
montante dos investimentos, mormente os estrangeiros, nunca foi tão alto.
Entretanto, mais que proporcionalmente crescem as transferências de renda e de
supostas despesas para o exterior, e mais ainda as de recursos reais.
É o modelo de dependência financeira e tecnológica que faz
minguar verbas para os investimentos produtivos e sociais, e também direcionar
erradamente boa parte deles.
Ora, quanto maior o espaço geográfico do mercado nacional, mais
cada região tem a ganhar com o comércio e a interação financeira internos.
De todo o exposto, decorre que o império, primeiramente tratou
de desestruturar o País como um todo. Isso o amoleceu para a etapa seguinte:
desmembrá-lo, como se delineia, em face das demarcações de supostas terras
indígenas, sobre tudo na Amazônia, entregando-as ao controle de fundações, ONGs
e igrejas controladas pelos oligarcas donos dos carteis mineradores de
âmbito mundial.
Outra vertente do projeto separatista parece ser a radicalização
da ignorância política e econômica, que investe nas diferenças regionais e de
classes de renda.
Essa está imbricada com o divisionismo ideológico
direita/esquerda. O império angloamericano o tem fomentado, em todo o
mundo, desde os tempos da revolução francesa. No Brasil, muito contribuiu
para acirrá-lo, a tentativa de golpe comunista em 1935.
Especialmente em função da geopolítica, nunca foram altas as
chances de o partido comunista chegar ao poder, mesmo em curtos períodos pós-2ª
Guerra Mundial, em que contou com recursos e teve apreciável penetração
eleitoral. De qualquer forma, a suposta ameaça comunista encaixou-se como
uma luva na estratégia imperial para fazer abortar o desenvolvimento do Brasil.
Assim, qualquer coisa que implicasse modificar a arcaica estrutura
social e que não fosse favorável aos carteis econômicos e financeiros
transnacionais, passou a ser associada ao comunismo, na versão da grande mídia
e dos demais instrumentos da intervenção imperial angloamericana.
Não só empresas transnacionais, mas também industriais e outros
empresários nacionais investiram para derrubar os governos voltados para o
desenvolvimento industrial e tecnológico.
Mas os proprietários brasileiros foram expropriados - não, como
temiam, pelos comunistas - mas, sim, pelo capital estrangeiro, privilegiado com
favores inacreditáveis por governos egressos de golpes cuja direção, como, em
1954, era orientada de fora do País.
Esse resultou da armação por serviços secretos estrangeiros de
atentado para supostamente matar um adversário do presidente, no qual foi morto
um oficial da Aeronáutica. Os comunistas não apoiavam Vargas e até o
criticavam.
Em 1964, a par das provocações suscitadas para envolver o
governo em atos de indisciplina de militares, houve intensa campanha para que
fossem vistos como de molde comunista os projetos de reforma econômica e social
de Goulart.
Apesar de o PT não representar resistência séria à intensificação
do modelo dependente, ele nasceu sob falsas bandeiras vermelhas, para dividir a
esquerda e, em última análise, participar dos golpes do sistema para cortar as
chances de Leonel Brizola.
Apesar também da política externa simpática a governos vizinhos
de inclinação bolivariana, embora não partilhando dela, a retórica e os clichês
do PT e sobre ele oferecem campo fértil ao império angloamericano para
pressionar a presidente e intensificar as ações para a sua
desestabilização.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento
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