29/01/2015 | 08:38 - Atualizado em: 29/01/2015 | 08:38
China aumenta exportação e rouba o mercado do Brasil na
América do Sul
Participação
das exportações chinesas na região passou de 6%, em 2003, para 18% em 2013. Já
a do Brasil, caiu de 14% para 11%
Patricia Büllpbull@brasileconomico.com.br
São Paulo
- Apesar da desaceleração de seu crescimento, a China continua exportando
muito e vem ampliando sua participação no mercado internacional às custas da
queda da participação de seus concorrentes nos mercados mundiais. E o Brasil
não está imune a esse movimento. Entre os países da América do Sul — sem contar
Venezuela e Uruguai — a participação da China nas importações da região
triplicou em pouco mais de dez anos: passou de 6% (média 2002/2003) para 18% em
2013, ao passo que a do Brasil caiu de 14% para 11% no mesmo período. Os dados
são da nova edição da revista “Conjuntura Econômica” do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre).
Segundo a
professora Lia Baker Valls Pereira, autora do artigo, a participação da China nas
perdas enfrentadas pelo Brasil na região aumentou especialmente em setores de
alta tecnologia. Isso sugere que o país permanece competitivo em produtos
primários, mas perde muito quando o assunto são os manufaturados. “A escalada
da China para produtos de maior conteúdo tecnológico tende a dificultar a
diversificação da pauta brasileira em direção a setores de maior valor
adicionado na região”, aponta a professora.
De acordo com
o especialista em comércio exterior José Roberto Cunha, do Programa de Comércio
Exterior Brasileiro da Fundação Instituto de Administração (Proceb/FIA),
teoricamente o Brasil teria mais vantagem em relação à China para vender
manufaturados na América Latina, tanto pelos acordos comerciais que possui,
quanto pela proximidade geográfica e cultural.
“Ocorre que o
comércio internacional não possui mais fronteiras e os empreendedores conseguem
fazer praticamente tudo online: falar com fornecedores, negociar pagamentos e
facilitar a ida de possíveis parceiros a feiras na Ásia para apresentar
produtos. Esses fatores, aliados ao custo de produção e ao preço final da
mercadoria chinesa, mantém os asiáticos mais competitivos”, diz Cunha.
O resultado é
que da perda calculada de 22% de participação das exportações brasileiras para
os países da América do Sul entre 2008 e 2013, 34% estariam ligados diretamente
ao aumento da participação da China na região. Chama atenção, inclusive, o
crescimento da presença chinesa na Argentina, principal parceiro do Brasil na
região: passou de 6% em 2003 para 18% em 2013.
Para o
advogado Eduardo Ribeiro Augusto, sócio do setor de Propriedade Intelectual da
Siqueira Castro Advogados, cada vez mais esse ganho de mercado da China deixa
de ser por preço e passa pela qualidade. Segundo Augusto, em 2012, o escritório
de propriedade intelectual da China — semelhante ao Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (Inpi) foi o que mais recebeu pedidos de patentes no
mundo: 652 mil pedidos, 24% mais do que em 2011. Já o Brasil, que ocupa o 10º
lugar no ranking, recebeu 30 mil pedidos.
“Esses números dão uma outra dimensão do motivo de a China ganhar cada vez mais espaço no comércio mundial. A inovação é um grande atalho para conseguir novos mercados. Quanto mais se inova, mais facilidade se tem de encontrar e conseguir novos mercados”, afirma o advogado.
“Esses números dão uma outra dimensão do motivo de a China ganhar cada vez mais espaço no comércio mundial. A inovação é um grande atalho para conseguir novos mercados. Quanto mais se inova, mais facilidade se tem de encontrar e conseguir novos mercados”, afirma o advogado.
Como
se preparar para enfrentar o gigante chinês
Para a
professora Lia Baker, enfrentar essa concorrência chinesa — que abarca desde
produtos tradicionais de baixo conteúdo tecnológico até os de maior
sofisticação tecnológica, passa pelo aumento da produtividade dos produtos
industriais brasileiros, melhora na infraestrutura que reduza os custos de
logística e investimentos em tecnologia. “Em suma, a agenda de competitividade
das exportações”, sintetiza.
O professor
José Roberto Cunha complementa que é preciso um novo modelo de desenvolvimento
e de internacionalização que coloque o Brasil em patamares semelhantes dos
asiáticos, como China, mas também a Coreia e o Japão.
“Mas o país
pensa muito no curto prazo. E isso não é prerrogativa dos governos, passa pelos
empresários e até pelos estudantes nas universidades. Precisamos mudar essa
visão imediatista. Claro que é importante pensar na redução do déficit público
e no controle da inflação. Mas, paralelamente, é preciso se dedicar a tornar o
país mais competitivo. E isso não se muda em dois anos”, conclui.
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