Crianças
sem religião nos EUA têm forte senso de moralidade, diz estudo
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/01/criancas-sem-religiao-nos-eua-tem-forte-senso-de-moralidade-diz-estudo.html
Longe de ser disfuncional, niilista e sem rumo,
sem a suposta retidão pregada pela religião, as famílias seculares estão
proporcionando aos seus filhos uma sólida base moral, baseando-se em um
princípio simples: a reciprocidade empática
Mais crianças estão “crescendo sem Deus” do que
em qualquer outro momento na história dosEstados Unidos. Elas são descendentes de uma
população secular em expansão que inclui uma relativamente nova e crescente
categoria de americanos chamada de nones. São assim apelidados porque afirmam
não acreditar em “nada em
particular“, de acordo com estudo de 2012 pelo Centro
de Pesquisas Pew.
O número de crianças sem religião tem
aumentado significativamente desde a década de 1950, quando menos de 4% dos
americanos relataram que cresceram em uma família não religiosa, segundo
estudos recentes.
Esse número atingiu a casa
dos dois dígitos quando um estudo de 2012 mostrou que 11% das pessoas nascidas
depois de 1970 disseram que tinham sido criadas em lares seculares. Isso pode
ajudar a explicar por que 23% dos adultos nos EUA afirmam
não ter religião, e mais de 30% entre as idades de 18
e 29 dizem o mesmo.
Então como tem sido a
formação moral dessas crianças que não oram antes das refeições nem vão à
escola dominical? Vai indo muito bem, ao que parece.
Longe de ser disfuncional,
niilista e sem rumo, sem a suposta retidão pregada pela religião, as famílias seculares estão
proporcionando aos seus filhos uma sólida base moral, de acordo com o professor
de sociologia Vern Bengston.
Por quase 40 anos,
Bengston tem supervisionado o Estudo Longitudinal de Gerações, que se tornou
o maior estudo da religião e da vida familiar conduzida em várias extratos
geracionais nos Estados Unidos.
Quando notou que
crescimento dos nones estava se acentuando, Bengston adicionou em 2013 as
famílias seculares em seu estudo, na tentativa de entender como está ocorrendo
as influências entre as gerações dos sem religião.
Ele ficou surpreso com o
que encontrou: altos níveis de solidariedade familiar, com proximidade
emocional entre pais e jovens não religiosos, e fortes padrões éticos e valores
morais transmitidos de uma geração para outra.
“No estudo, muitos pais não religiosos
eram mais coerentes e apaixonados por seus princípios éticos do que alguns dos
pais religiosas“, disse Bengston.
“A grande maioria parecia ter metas
firmadas por valores morais e uma vida com propósito.”
Minha própria pesquisa em
curso entre os americanos seculares — e de outros cientistas sociais que
voltaram recentemente o seu olhar sobre a cultura secular — confirma que a vida
familiar de não religiosos está repleta de valores morais de sustentação e de
preceitos éticos enriquecedoras.
Destacam-se nessas
famílias a solução racional de problemas, a autonomia pessoal, a independência
de pensamento, ausência de punição corporal, um espírito de “questionar tudo” e, acima
de todo, a empatia.
Para as pessoas seculares,
a moral se baseia em um princípio simples: a reciprocidade empática, conhecida
como “Regra de Ouro”.
Tratar os outros como você gostaria de ser tratado. É uma antiga, imperativa
ética universal. E não requer crenças sobrenaturais.
Debbie, a mãe em uma
dessas famílias, disse: “A
maneira de ensinar aos filhos o que é certo e o errado é incutir neles um
sentimento de empatia. É tentando lhes dar a sensação de como é estar do outro
lado de suas ações. E eu não vejo nenhuma necessidade de Deus nisso.”
“Se a sua moral é toda ligada a Deus,
isso significa que o seu universo moral pode desmoronar a qualquer momento, em
situação em que a existência do sobrenatural possa ser colocada em dúvida. A
forma como estamos ensinando nossos filhos não se preocupa no que eles possam
escolher em acreditar mais tarde. Mesmo que se tornem religiosos ou qualquer
outra coisa, eles ainda vão ter essa estrutura de pensamento.”
Estudos de 2010 da Universidade
de Duke descobriram
que os adolescentes seculares quando amadurecem estão menos propensos ao racismo do
que os jovens religiosos.
Estudos psicológicos
mostram que adultos seculares tendem a ser menos vingativos, menos
nacionalistas, menos militaristas, menos autoritários e mais tolerantes, em
média, do que os religiosos da mesma faixa etária.
Uma pesquisa recente
mostrou também que as crianças nones tendem a permanecer sem religião à
medida que envelhecem.
Adultos seculares são mais
propensos a compreender e aceitar a ciência sobre o aquecimento global e também
apoiam mais a igualdade das mulheres e
os direitos dos homossexuais.
Os ateus eram quase
ausente da população carcerária até 1990, compreendendo menos de metade de 1%
dos presidiários, de acordo com pesquisa do Federal
Bureau of Prisons.
Isso reflete o que a
criminologia tem documentado por mais de um século: os sem igrejas e
os não religiosos se envolvem muito menos em crimes.
Outro fato significativo:
os países democráticos com os mais baixos níveis de fé religiosa — como aSuécia, Dinamarca, Japão, Bélgica e Nova Zelândia — têm as mais baixas taxas de crimes
violentos do mundo e desfrutam de altos níveis de bem estar social.
Eu sei da angústia de pais
seculares quando eles não conseguem ajudar seus filhos. Por isso, cabe a
pergunta: eles estariam cometendo um erro ao criar seus filhos sem religião?
A resposta inequívoca é
não. Crianças educadas sem religião não carecem de virtudes, e elas devem ser
muito bem recebidas na sociedade como um grupo que está crescendo.
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