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Seca, Promessas e Poeira ✰ Comentário de Rachel Sheherazade
Racionamento
de água em São Paulo, volumes mortos no Rio, torneiras secas em Minas...
Guardadas
as devidas proporções, o “Sul Maravilha” vive, agora, drama semelhante à
estiagem histórica do Nordeste.
E é
exatamente sobre a seca no Nordeste que eu quero falar, pois desde o
esvaziamento das torneiras no abastado Sudeste, a mídia esqueceu-se
completamente da estiagem perene do outro lado do país.
E
falo sobre a seca no Nordeste porque é mais grave, porque é mais antiga, porque
é mais injusta, porque é mais negligenciada.
Ao
contrário do Sudeste, a falta de chuvas no semi-árido nordestino não é um
problema transitório, mas uma catástrofe constante, que castiga, há séculos, o
sertanejo, e condena toda uma região ao sofrimento, à humilhação, e ao atraso
econômico.
Em
1877, o imperador Dom Pedro II, com a hipocrisia típica dos poderosos, chegou a
afirmar que venderia as jóias da Coroa para acabar com o sofrimento dos
nordestinos.
Desde
a realeza até a República, muitos foram os governantes que se valeram da
retórica da seca para manipular os incautos, chegar ou se manter no poder.
Políticos
de todos os escalões – de coronéis locais a presidentes da República – fizeram,
da seca no Nordeste, uma indústria; dos miseráveis, sua mão de obra, dos
analfabetos, famintos e sedentos, seu curral eleitoral.
Para
curar o mal da seca, os políticos prometeram todo tipo de remédio: de cacimbas
a carros pipas. Todos inócuos.
Até
a faraônica transposição do São Francisco a maior promessa de campanha do então
candidato Lula ficou pelo caminho, e, há 12 anos, só serve para enriquecer
empreiteiras, políticos e burocratas corruptos. Desde que a obra saiu do papel,
o orçamento da transposição mais que duplicou. E não há expectativa de
conclusão.
Lula
foi o terceiro nordestino a ocupar a presidência da República desde a
redemocratização. Quando menino, sentiu, na pele, o flagelo da seca. Teve dois
mandatos para cumprir a promessa que fez aos conterrâneos que o elegeram: acabar
com a seca no Nordeste.
Deixou
o sonho virar poeira.
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