“Saiam de São
Paulo porque aqui não vai ter água”: a espantosa sinceridade de um diretor da
Sabesp
PUBLICADO 05 FEVEREIRO 2015.
Paulo Massato
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Por Kiko Nogueira*
O
diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato Yoshimoto, é um espécie de grilo
falante de uma empresa cheia de segredos. Foi ele quem admitiu, nesta semana, a
adoção de um rodízio “muito drástico” na região metropolitana e a formulação
dos dois dias com água para cinco dias sem.
Esta
seria a solução “no limite”. No ritmo atual, o volume disponível para captação
no Sistema Cantareira deve se esgotar em março e a terceira cota de 41 bilhões
de litros do volume morto termina em maio.
Massato
está há cerca de dez anos nesse cargo (entrou na Empresa Paulista de
Planejamento Metropolitano, Emplasa, em 1975). Foi assessor de um irmão de
Alberto Goldman, ex-governador. Entre 1996 e 2003, segundo o site da estatal,
gerenciou “programas de redução e controle de perdas, entre outras coisas”.
Em
fevereiro, falou publicamente em racionamento para em seguida recuar, sob o
argumento de que seria prejudicial aos mais pobres. Três meses depois, na CPI
na Câmara Municipal, advertiu os presentes de que, se a crise piorasse, iria
distribuir água com uma canequinha.
Massato
é um quadro importante na companhia. Foi cotado para suceder a presidente Dilma
Pena, que saiu em dezembro. Perdeu a corrida para Jerson Kelman.
Numa
reunião da diretoria da Sabesp do ano passado, cujo áudio vazou, ele deu sua
declaração mais sincera sobre o caos que se avizinha em São Paulo.
“Essa
é uma agonia, uma preocupação”, começou. “Alguém brincou aqui, mas é uma
brincadeira séria. Vamos dar férias. Saiam de São Paulo porque aqui não tem
água, não vai ter água para banho, para limpeza da casa, quem puder compra
garrafa, água mineral. Quem não puder, vai tomar banho na casa da mãe lá em
Santos, Ubatuba, Águas de São Pedro, sei lá, aqui não vai ter”.
Com
seus atos falhos, Paulo Massato é, provavelmente, a única pessoa a contar a
verdade nessa tragicomédia. A questão é que sua fidelidade ao governo é maior
do que o dever de atender a necessidade da população. Mas algo sempre escapa.
* Kiko Nogueira é diretor-adjunto do
Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de
redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem
e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
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