As dez denúncias do psicanalista Adam Phillips
23 out, 2015
“Um dos mais influentes
psicanalistas da Inglaterra, autor de dez livros e editor da nova tradução da
obra de Sigmund Freud (1856-1939), Adam Phillips, mais parece um profeta do que
um homem da ciência. Pelo menos essa é a ideia que se tem depois de ler a
entrevista que ele concedeu à revista Veja em 12 de março de 2003, “Páginas
amarelas”), mas que sete anos depois me parece atualizadíssima as questões
erguidas por ele, da qual se extraíram as dez denúncias abaixo numeradas:
1. Hoje as pessoas têm
mais medo de morrer do que no passado. Há uma preocupação desmedida com o
envelhecimento, com acidentes e doenças. É como se o mundo pudesse existir sem
essas coisas.
2. A ideia de uma vida
boa foi substituída pela de uma vida a ser invejada.
3. Hoje todo mundo fala
de sexo, mas ninguém diz nada interessante. É uma conversa estereotipada atrás
da outra. Vemos exageros até com crianças, que aprendem danças sensuais e são
expostas ao assunto muito cedo. Estamos cada vez mais infelizes e desesperados,
com o estilo de vida que levamos.
4. Nos consultórios,
qualquer tristeza é chamada de depressão.
5. As crianças entram na
corrida pelo sucesso muito cedo e ficam sem tempo para sonhar.
6. No século 14, se as
pessoas fossem perguntadas sobre o que queriam da vida, diriam que buscavam a
salvação divina. Hoje a resposta é: “ser rico e famoso”. Existe uma espécie de
culto que faz com que as pessoas não consigam enxergar o que realmente querem
da vida.
7. Os pais criam limites
que a cultura não sanciona. Por exemplo: alguns pais tentam controlar a dieta
dos filhos, dizendo que é mais saudável comer verduras do que salgadinhos,
enquanto as propagandas dão a mensagem diametralmente oposta. O mesmo pode ser
dito em relação ao comportamento sexual dos adolescentes. Muitos pais procuram
argumentar que é necessário ter um comportamento responsável enquanto a mídia
diz que não há limites.
8. [Precisamos] instruir
as crianças a interpretar a cultura em que vivemos, ensiná-las a ser críticas,
mostrar que as propagandas não são ordens e devem ser analisadas.
9. Uma coisa precisa
ficar clara de uma vez por todas: embora reclamem, as crianças dependem do
controle dos adultos. Quando não têm esse controle, sentem-se completamente
poderosas, mas ao mesmo tempo perdidas. Hoje há muitos pais com medo dos
próprios filhos.
10. Ninguém deveria
escolher a profissão de psicanalista para enriquecer. Os preços das sessões
deveriam ser baixos e o serviço, acessível. Deve-se desconfiar de analistas
caros. A psicanálise não pode ser medida pelo padrão consumista, do tipo “se um
produto é caro, então é bom”. Todos precisam de um espaço para falar e refletir
sobre sua vida.”
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