As doenças transmitidas por alimentos estão subdiagnosticadas
12 DE OUTUBRO DE 2016 - 23:08O alerta é de uma investigadora portuguesa especialista em segurança alimentar, que colabora com a Organização Mundial de Saúde.
Diz-me o que comes dir-te-ei do que padecesFoto: Agustin Marcarian / Reuters
As doenças transmitidas por alimentos estão subdiagnosticadas e subnotificadas, disse à TSF uma especialista em segurança alimentar, salientando que os dados recolhidos representam apenas "uma pequena fração" das doenças que ocorrem na realidade.
"Para a maior parte das doenças, o que é capturado pelas autoridades de vigilância da saúde públicas representa apenas uma pequena fração das doenças que ocorrem na realidade", uma situação que "é transversal à maioria dos países", adiantou Sara Monteiro Pires, que vai participar esta quinta-feira no
Segundo a investigadora do Instituto Nacional de Alimentação, da Universidade Técnica da Dinamarca, há dados de vigilância epidemiológica recolhidos pela direção Geral de Saúde, mas "ainda há muita subnotificação e subdiagnóstico", apesar do reconhecimento da importância da segurança alimentar ser crescente.
"Portugal não está nada atrás de outros países europeus a nível de segurança alimentar. As autoridades e a indústria têm tido um papel extraordinário, sobretudo na última década, para prevenir doenças de transmissão alimentar. O que falta são dados", realçou.Isabel Meira falou com a investigação Sara Monteiro Pires
O número de casos reportados é sempre inferior ao número de casos reais, até porque nem sempre as pessoas doentes vão ao médico: "As pessoas que têm uma gastroenterite, a maior parte das vezes assumem que é autolimitante, que tem curta duração e que passa sem tratamento e quando vão ao médico estes nem sempre requisitam uma amostra", explicou a especialista.
Normalmente, os casos reportados em Portugal estão associados a surtos, mais ou menos focados num grupo de pessoas que consumiram alimento contaminados e que ficaram doentes, o que leva a uma investigação e posterior notificação do surto.
Mas "há com certeza muitos outros casos esporádicos, que não são diagnosticados e que não aparecem nas estatísticas", sublinha Sara Monteiro Pires.
As doenças transmitidas pelos alimentos apresentam diferenças regionais. As últimas estimativas para a região europeia alargada, que abrange cerca de 50 países, indicam que os agentes mais importantes são bactérias e vírus que causam gastroenterites diarreicas, nomeadamente a Campylobacter, a salmonela e o norovirus.
Em Portugal, ainda não há estimativas que permitam fazer um 'ranking' de doenças com maior incidência, mas segundo Sara Monteiro Pires a salmonelose permanece no topo dos casos reportados.
"Há imensos fatores que contribuem" para este tipo de doenças, mas a maior parte está associada a agentes com origem animal.
A contaminação pode ocorrer nas várias fases da cadeia alimentar, mas a maior parte dos agentes acaba por morrer se os alimentos forem cozinhados de forma adequada.
A especialista em avaliação de risco em segurança alimentar e saúde pública destacou igualmente a importância de pôr este tipo de doenças na agenda política para "mostrar que não são apenas um problema de países pouco desenvolvidos ou com fraca higiene".
Os estudos que estão a ser desenvolvidos, explicou, permitem encontrar indicadores para comparar doenças, regiões, identificar os agentes mais importantes e identificar quais os alimentos mais importantes para intervir na segurança alimentar.
Fonte: http://www.tsf.pt/sociedade/interior/as-doencas-transmitidas-por-alimentos-estao-subdiagnosticadas-5438464.html
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